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Entrevista com a Elisa Barreto Leal CEO FBL – Agricultura e Pecuária

As mulheres desempenham um papel fundamental no agronegócio, contribuindo para a inovação, sustentabilidade e gestão eficiente do setor.

Apesar dos desafios históricos, como a desigualdade de oportunidades e o reconhecimento tardio, sua presença tem crescido em todas as áreas, desde a produção rural até cargos de liderança. Elas estão à frente de fazendas, cooperativas e empresas agroindustriais, impulsionando novas práticas e tecnologias.

O acesso à educação e à tecnologia tem ampliado suas possibilidades de atuação. Além disso, programas de incentivo e redes de apoio têm fortalecido sua participação. No Brasil, estima-se que cerca de 30% das propriedades rurais sejam geridas por mulheres. Esse avanço reforça a importância da equidade de gênero no campo e na tomada de decisões estratégicas.

Nesta edição do Perfil Mulheres no Agro entrevistamos Elisa Barreto Leal CEO FBL – Agricultura e Pecuária. Elisa compartilha sua jornada empreendedora conciliando papel de mãe e líder do grupo. Fala do processo de reestruturação da empresa, cultura organizacional e modelo de gestão, desenvolvido para garantir maior qualidade de vida e bem-estar dos colaboradores.

Como foi o início da viagem (família, cidade, escola, sonhos)?
Nasci na cidade de Teófilo Otoni, em Minas Gerais, mas passei minha infância em Joaíma, no Vale do Jequitinhonha - MG. Minha infância foi profundamente marcada pelo contato com a natureza e a vida no campo. Acompanhava de perto meu pai, Flávio, e meu avô, Vandinho, nas fazendas. Tinha uma grande afinidade com os cavalos e sonhava em ser veterinária, embora não tenha seguido esse caminho.


Desde cedo, aprendi o valor da dedicação, resiliência e do esforço necessário para alcançar os meus objetivos. Aos 13 anos, me mudei para Belo Horizonte em busca de novas oportunidades educacionais. Esse foi um dos maiores desafios da minha vida. A adaptação à cidade, às pessoas, ao novo colégio e a todo o contexto ao meu redor não foi fácil. Mas, apesar das dificuldades, a palavra “desistir” nunca passou pela minha cabeça. Estudei nos Colégios Santo Antônio e Santa Dorotéia, e, a partir desse momento, meu foco profissional passou a ser outro. Me formei em Fisioterapia pela PUC-Minas, fiz pós-graduação em Ortopedia na UFMG e trabalhei na área por dois anos.

Em 2013, me casei com Josué, que sempre esteve ao meu lado contribuindo para o meu crescimento pessoal e profissional.  Fui influenciada por ele, bancário, e decidi dar um passo ousado: deixar a fisioterapia, uma carreira que me trazia conforto, para me aventurar no mundo bancário, algo completamente novo para mim.

No banco, vivi uma verdadeira escola de vida e carreira por quase 7 anos. Cada dia foi uma lição valiosa, que me ensinou que o verdadeiro sucesso não vem de esforços individuais, mas sim da força de um time. Aprendi que a gestão de pessoas, a união de talentos e a empatia genuína são os pilares que sustentam os maiores resultados.

Uma gestão eficiente pode transformar qualquer cenário. Entendi que, para alcançar a excelência, é preciso não só ter as pessoas certas ao seu lado, mas também cultivá-las, valorizá-las e motivá-las para que, juntos, possamos alcançar o que parecia impossível.

Em 2019, minha primeira filha, Stella, nasceu, e com ela veio uma nova perspectiva sobre a vida, tanto pessoal quanto profissional.


O banco já não me satisfazia, então, decidi seguir novos caminhos. Sem uma ideia clara do que viria pela frente, comecei a prestar consultorias pessoais. Foi nesse período que meu pai me convidou para ajudá-lo com a parte financeira de seus negócios. Ele queria alguém de confiança para acompanhar o crescimento da empresa, e aceitei o desafio.

Ao analisar os números, comecei a identificar áreas onde seria possível melhorar. Meu pai, sempre incentivador, me desafiou a colocar essas sugestões em prática. Com muita disposição, aceitei o desafio. As consultorias foram ficando para segundo plano, pois a implementação das minhas ideias exigia cada vez mais do meu tempo e energia. De forma natural, fui assumindo novas responsabilidades, até que, sem perceber, estava à frente da operação de banana, a principal atividade do grupo.

Os resultados foram impressionantes. Em três anos, o faturamento dobrou e toda a operação foi reestruturada. Passamos a colocar as pessoas no centro de tudo, investindo intensamente em treinamento, especialmente na capacitação da nossa liderança. Afinal, os líderes não apenas orientam pessoas e processos, mas também influenciam a cultura, a motivação e a consistência dos resultados.

Com os resultados expressivos e consistentes na operação principal, que também é a mais desafiadora, assumi as demais operações do grupo, consolidando a minha missão.

Em 2024, tive meu segundo filho, Henrique, e, mais uma vez, minha forma de pensar se transformou. A chegada dele trouxe uma nova perspectiva sobre a importância de enxergar cada pessoa como única. Embora Stella e Henrique sejam filhos do mesmo pai e da mesma mãe, inseridos em um mesmo contexto de vida, é incrível perceber como cada um tem sua própria personalidade e maneira de enfrentar as situações. Essa experiência reafirmou para mim a ideia de que, em qualquer contexto – seja na família ou no trabalho – é fundamental respeitar e compreender as diferenças individuais.


Transição de carreira, desafios. O que, e quem a motivou para ampliar seu conhecimento estudando, fazendo vários cursos para hoje aplicar nas fazendas?
Quando comecei a atuar de forma mais intensa nas atividades operacionais, estava plenamente focada nos desafios que surgiam e em como alcançar os objetivos de maneira eficaz. Nesse processo, participei ativamente de cursos e treinamentos, além de buscar pessoas que pudessem me auxiliar de alguma forma, como as consultorias técnicas especializadas que atuam de forma permanente ainda hoje. Meu pai sempre foi um grande incentivador nesse caminho. Compartilhamos a crença de que o céu é o limite. Até hoje, continuo me aprimorando como gestora e líder, pois sei que o mundo muda rapidamente e precisamos estar sempre acompanhando essas transformações.

Nada acontece sozinho. Como organiza a evolução contínua da fazenda. Quem está envolvido?
"Ninguém faz nada sozinho." Esse é o lema que guia a minha vida. Durante o processo de reestruturação da empresa, implementamos uma estrutura organizacional sólida, com líderes altamente alinhados à nossa cultura, valores e missão. A nossa equipe se destaca pela extrema eficiência na execução de suas tarefas, garantindo entregas rápidas, precisas e totalmente integradas aos objetivos estratégicos. Sem dúvida, o maior diferencial da nossa organização é a nossa equipe. Nossa cultura é fundamentada na busca contínua por melhorias, e o time está plenamente comprometido com esse propósito.

Onde estão concentradas as fazendas e fale nos sobre a diversificação da FBL Agricultura e Pecuária, pois sabemos que o carro-chefe da empresa é o cultivo de bananas. 
Atualmente, o grupo possui 10 fazendas, localizadas nos municípios de Joaíma, Araçuaí, Itinga e Coronel Murta, todas no Vale do Jequitinhonha – Minas Gerais – com 230 colaboradores envolvidos diretamente nas operações diárias. O carro-chefe da empresa é a produção de banana, mas também atuamos nas áreas de pecuária de corte e cafeicultura. Estamos sempre em movimento, e isso faz parte da nossa essência. No momento, estamos realizando testes com outras variedades de frutas, com a intenção de expandir e implementar novas modalidades no futuro.

Quais as variedades de bananas que vocês cultivam? Qual o tempo de colheita e chegada ao consumidor final?
Cultivamos a banana Prata Gorutuba, e o ciclo do cultivo, desde o plantio até a primeira colheita, leva cerca de 12 meses.


A partir do segundo cacho, o processo se torna mais rápido, e seguimos produzindo durante todo o ano. A banana, por ser um produto delicado, exige cuidados especiais, principalmente no processo de colheita, que é feito manualmente, tornando-a suscetível a danos. Para garantir que o cliente receba o produto com a melhor qualidade, realizamos a colheita na data do transporte, embalamos cuidadosamente e enviamos imediatamente. Nossos processos são extremamente rigorosos para assegurar a qualidade e a padronização do produto.

Quais certificações de qualidade e sustentabilidade da FBL?
Atualmente, estamos em processo de auditoria para obter a certificação Certifica Minas Frutas e já fazemos parte do ESG Pro Brasil, reafirmando nosso compromisso com práticas sustentáveis e responsáveis em todas as nossas operações.

Sob sua gestão como tem cuidado do capital humano? Afinal são eles que ajudam a girar todo o ecossistema da fazenda.
Dentro da nossa cultura organizacional e modelo de gestão, desenvolvemos diversas ações para garantir maior qualidade de vida e bem-estar aos nossos colaboradores. Oferecemos vale alimentação, plano de saúde, remunerações variáveis mensais e semestrais, apoio psicológico por meio de profissionais especializados, programas de suporte, treinamentos focados em inteligência emocional e saúde mental, além de comemorações periódicas para aniversariantes, destaques e pessoas notáveis.
Temos convênio com uma faculdade local que oferece mais 30 cursos superiores com até 60% de desconto para os nossos colaboradores. Parte da nossa cultura é tratar cada indivíduo como único, com necessidades próprias, e buscar atender, dentro do possível, a essas necessidades. Reconhecemos que o trabalho no setor agrícola ainda é muitas vezes marginalizado pela sociedade, e nos empenhamos ativamente para mostrar os benefícios dessa atuação e a importância da produção de alimentos para a economia e para a sociedade como um todo.

Como está sendo trabalhada a questão da estratégica da sucessão familiar? Como foi sua vinda para a fazenda?
Minha atuação, de maneira geral, aconteceu de forma muito espontânea. Embora eu esteja à frente como CEO atualmente, meu pai segue atuando ativamente como Presidente. Essa integração entre as nossas gerações é essencial para o nosso sucesso. Ele iniciou suas atividades agrícolas em 1985 e possui uma vasta experiência para compartilhar. Já eu venho de uma geração mais moderna, trazendo tecnologia e inovação para as nossas operações.


Observa-se um aumento significativo de mulheres em funções de liderança no Agro, desde CEOs de empresas multinacionais, presidentes de entidades e secretárias, ministras nas mais diversas áreas. Como avalia essa tendência?
Historicamente, o agronegócio foi dominado por homens, mas a quebra de paradigmas tem se acelerado com a crescente qualificação das mulheres. A diversidade traz inúmeros benefícios para os negócios de forma global. Embora ainda existam muitos desafios a serem superados, a tendência é que a presença feminina continue a crescer, especialmente diante dos exemplos de resultados grandiosos já validados.

Hoje, ao refletir sobre essa transformação, não posso deixar de lembrar da minha mãe, Enedina, uma mulher que, em sua trajetória, foi pioneira em muitos aspectos. Ela sempre me ensinou que a força da mulher vai além dos desafios, está na capacidade de se reinventar, de olhar para o futuro com coragem e sabedoria. Sua jornada sempre foi marcada por trabalho árduo, resiliência e amor incondicional pela nossa família. Ela é, sem dúvida, uma das grandes responsáveis por me mostrar o quanto o empoderamento feminino pode transformar o mundo.

 “Desde cedo, aprendi o valor da dedicação, resiliência e do esforço necessário para alcançar os meus objetivos.”


@elisabarretoleal
@fblagriculturaepecuaria

Fotos: Divulgação 

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